Linha do tempo dos protestos
Por Letícia Ozório

Se a tarifa aumentar, São Paulo vai parar – 6 de junho
O primeiro protesto aconteceu em uma quinta-feira, com organização do Movimento Passe Livre, que já tinha realizado atos menores contra reajustes nas tarifas e pela gratuidade no transporte em outras cidades do país. A partir de doações, eles custeavam panfletos e cartazes com dizeres contra os aumentos de R$0,20 nas passagens de ônibus, Metrô e trens na capital paulista. As redes sociais do Movimento explicavam suas motivações:
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“Todo aumento de tarifa é injusto e aumenta a exclusão social”
Cerca de 2.000 pessoas ocuparam a Avenida Paulista, no centro de São Paulo, para protestar contra o aumento de 6,7% nos preços das passagens.
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No dia seguinte, os principais jornais do país estampavam os estragos causados pela passagem das pessoas na principal avenida da cidade. Manchetes destacavam a ação de vândalos na destruição de vidraças das estações Brigadeiro e Trianon-Masp do Metrô, além de shoppings, bancas de jornais e bases móveis da Polícia Militar. O Metrô informou que o prejuízo ao seu patrimônio foi de R$ 73 mil. Segundo o G1, cerca de 30 a 40 policiais acompanhavam a manifestação e, ao todo, 15 pessoas foram presas.
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O professor de história Alek Sander de Carvalho tinha 33 anos quando as manifestações começaram, mas conta que desde sua adolescência já participava ativamente de protestos pela educação e de movimentos sociais. Apesar de não fazer parte do Movimento Passe Livre, Alek Sander participou de encontros estudantis que discutiam a gratuito do transporte público, e esteve presente durante os primeiros dias das Jornadas de Junho:
Mais protestos ocuparam a cidade na sexta-feira, 7, e na terça-feira, 11. O primeiro contou com 200 pessoas, segundo a Polícia Militar, e ocupou parte da Marginal Pinheiros e da Avenida Paulista. O segundo reuniu 5 mil manifestantes, que rumaram da Avenida Paulista até a Avenida 23 de Maio. Com pressão do então governador Geraldo Alckmin para reprimir os protestos e evitar o fechamento das principais vias, a PM enviou 400 policiais para acompanhar o protesto no centro da cidade. Vinte manifestantes foram presos.
O gigante acordou – 13 de junho
Uma semana após o início das manifestações pela redução na tarifa, o Movimento Passe Livre organizava um ato em frente ao Theatro Municipal. Pela manhã, o governador Geraldo Alckmin declara em entrevista que não abaixaria o preço das passagens por conta das manifestações, organizadas, segundo ele, por
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“um movimento político pequeno, mas muito violento”.
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A violência realmente marcou a data, mas não por parte dos manifestantes. Ações policiais violentas foram vistas naquela noite, em que 241 das 5 mil pessoas presentes foram detidas. Repórteres e fotógrafos foram atingidos durante as repressões com tiros de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo por parte da Polícia. Um deles é o fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu o olho ao ser ferido por uma bala de borracha. O governo do Estado de São Paulo abriu uma investigação sobre o uso de força excessiva da polícia durante os protestos. José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça do governo federal, afirmou ter visto excesso na atuação policial durante a noite de protestos em São Paulo.
Protestos menores começavam a se formar em capitais de outros Estados do país, inspirados pelo movimento em São Paulo, mas também revoltados com os aumentos de passagens nas suas cidades. No Rio de Janeiro (RJ), 2 mil pessoas marcaram presença em um protesto contra o aumento de passagens de ônibus municipais. O valor, que era de R$ 2,75 até o começo de junho, subiu para R$ 2,95. Duas pessoas foram presas, segundo a PM. Em Porto Alegre (RS), centenas de pessoas caminharam pelas principais vias da cidade e bloquearam a Avenida João Pessoa. Ao menos 18 pessoas foram presas, de acordo com o UOL.
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Não vai ter Copa – 15 de junho

As pautas e reivindicações começavam a se dividir. No dia que marcou o início da Copa das Confederações – torneio que acontece um ano antes da Copa do Mundo da FIFA –, os manifestantes passaram a ir às ruas contra o investimento do governo nos dois eventos esportivos. Por volta de 200 manifestantes protestaram em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF), sede do jogo entre Brasil e Japão. 19 pessoas foram presas. Em Belo Horizonte, 8 mil pessoas se reuniram para pedir mais investimentos em saúde e educação, menor investimento nas obras para a Copa do Mundo e a diminuição do valor nas passagens de transporte público.
O excesso de pautas transformava o ritmo das manifestações. O que começou em São Paulo contra o aumento de R$0,20 nas tarifas de ônibus se expandira para outras cidades do país, onde
as pautas e reivindicações começavam a se dividir. No dia que marcou o início da Copa das Confederações – torneio que acontece um ano antes da Copa do Mundo da FIFA –, os manifestantes passaram a ir às ruas contra o investimento do governo nos dois eventos esportivos. Por volta de 200 manifestantes protestaram em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF), sede do jogo entre Brasil e Japão. 19 pessoas foram presas. Em Belo Horizonte, 8 mil pessoas se reuniram para pedir mais investimentos em saúde e educação, menor investimento nas obras para a Copa do Mundo e a diminuição do valor nas passagens de transporte público.
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O excesso de pautas transformava o ritmo das manifestações. O que começou em São Paulo contra o aumento de R$0,20 nas tarifas de ônibus se expandira para outras cidades do país, onde esse já não era o centro das reivindicações. A comprovação veio em 19 de junho, quarta-feira, quando o governador e o prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, aceitaram a redução na tarifa. O valor voltaria aos R$ 3,00. O anúncio também aconteceu no Rio de Janeiro, cidade onde a tarifa dos ônibus voltou a R$ 2,75, com reduções também no metrô, trens e barcas. Mesmo assim, o Movimento Passe Livre convocava pessoas pelas redes sociais para mais um protesto. Em comunicado, o MPL criticou os governos estadual e municipal por
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“ignorarem a pressão popular pela revogação do aumento das passagens”.
A rua é nossa – 20 de junho
Mesmo com a retomada do valor original das tarifas, o protesto na quinta-feira reuniu mais de um milhão de pessoas de todas as regiões do Brasil. Foram, ao todo, 366 cidades e 22 capitais. A atuação policial deixou 137 pessoas feridas em Brasília e 60 no Rio de Janeiro. A capital carioca foi a cidade que reuniu mais pessoas. Foram ao menos 300 mil manifestantes concentrados na Candelária, no centro, segundo a PM. São Paulo teve a presença de 110 mil pessoas, segundo o Datafolha, que interditaram a Avenida Paulista.
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No dia seguinte, a presidente Dilma Rousseff se encontrava com o Movimento Passe Livre, prefeitos e governadores para buscar formas de atender as demandas tão amplas da população. Cinco pactos foram instituídos, ampliando investimentos e melhorias nos seguintes âmbitos: responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, educação e transportes. As propostas ali discutidas não saíram do papel.
